Em 2021, aprendi a costurar, sem saber que isso ia mudar a minha vida. Três anos depois lancei a Grita. A Grita é uma marca de roupa que transforma tecidos domésticos usados. Baseada no princípio da economia circular, a marca tem como missão reduzir o desperdício e o impacto ambiental da indústria têxtil, que é a segunda mais poluente do mundo.

Para as minhas criações utilizo tecidos que vou resgatando em feiras e lojas de velharias. Utilizo, principalmente, toalhas de mesa e de chá bordadas (muitas vezes à mão), cortinas, naprons, cobertores – tecidos simples, muitos deles com marcas do tempo que tento disfarçar e nalguns casos respeitar de forma a poder tirar o melhor partido deles.

Foi em Serpins, uma vila situada na região centro, que criei o projeto. Aqui, inspirada pela Serra da Lousã e pelo Rio Ceira, encontro a tranquilidade que preciso para me ligar ao que é essencial: o trabalho manual, a simplicidade das coisas feitas com as mãos, o respeito pelo tempo. 

Tento aproveitar e simplificar os materiais que utilizo em todo o processo, evitando o desperdício. Por exemplo, as etiquetas, são feitas com os restos dos tecidos. Os botões são ecológicos feitos com borras de café e plástico reciclado. As embalagens são em papel reciclado e para evitar a impressão industrial, utilizo carimbos. Procuro utilizar o que tenho, honrar o que a natureza e o trabalho manual nos oferecem. A Grita defende que a beleza está nas coisas mais simples e por isso procura aproveitar o que tem, dando-lhe um novo sentido.

Ao vestir uma peça da Grita, estamos a vestir a história, o trabalho e o amor de muitas mulheres, que com dedicação bordaram estes tecidos, símbolos de resistência, de amor e dedicação. Não sei quem foram estas mulheres mas sinto que ao trabalhar estes tecidos, estou a continuar uma história que começou muito antes de mim. Cada peça que crio é uma pequena homenagem ao que é simples, e ao que verdadeiramente importa. Um grito pelo não esquecimento.

Serpins, Março de 2025

Cristina